Esta é uma aldeia especial.

Não tanto pelas pessoas, mas por aquilo que Lagerwiede tem em abundância: água.

Há tanta água que já não há espaço para ruas. Os canais de Lagerwiede separam os habitantes, enquanto as pontes os unem. Não podia ser de outra forma, pois então não seria especial.

Quando uma leve névoa paira sobre o lago e os engenheiros abandonam as suas bombas de água, vivemos esta hora hesitante, em que os velhos pensam na sua morte e os jovens apaixonados no seu futuro.

Em Lagerwiede, uma hora dura mais do que em qualquer outro lugar.

É tempo suficiente para que divisões, antigas e novas, se manifestem. Quanto mais óbvia a resposta te parecer, mais o teu vizinho discordará.

Mas se há algo que une tudo isto, é a realidade da água.

A vida tem sido assim aqui há 70 anos. Tudo mudou, mas os problemas permaneceram.

Fecha os olhos às mudanças e talvez te deixes encantar. Olha para outro lado e terás de te convencer de que tudo ficará bem. Desvia o olhar uma terceira vez e talvez seja tarde demais.

A água é tão pacífica quanto cruel, tão destrutiva quanto conciliadora, tanto inimiga como amiga.

Ouve… a banda filarmónica está a ensaiar.

Vamos ver…

Excerto do guião escrito por Priscila Fernandes, inspirado no original de Jan Bokker, para Fanfare (1958).